sexta-feira, 9 de maio de 2014

A sociedade brasileira precisa “urgente” de Formação Antirracista: Somos Negros e Negras, Não somos Macacos!

Texto publicado originalmente no blog do Coletivo Negrada:
http://coletivonegrada.wordpress.com/2014/04/29/a-sociedade-brasileira-precisa-urgente-de-formacao-antirracista-somos-negros-e-negras-nao-somos-macacos/?preview=true&preview_id=206&preview_nonce=d927af94c1&post_format=standard
Por: Coletivo Negrada*
Nesse último domingo o jogador brasileiro, Daniel Alves, que atua no time do Barcelona, foi vítima de racismo e respondeu à agressão comendo a banana que lhe fora atirada pelo torcedor, ironizando assim o ato racista. A partir dessa atitude, alguns “famosos” como Luciano Huck, Angélica, Ivete Sangalo, Michel Teló, Alexandre Pires e Cláudia Leite, entre outros, munidos de suas redes sociais começaram a se expressar de forma como aqueles que no dia à dia combatem o Racismo, nos seus espaços de trabalho, nas escolas, com seus familiares ou com os amigos, agiram também como se estivessem sensibilizados com a questão racial no Brasil, que criminaliza e extermina milhares de jovens negros, matam mulheres negras nos partos “humanizados” nos hospitais ou arrastadas pelas ruas quando “socorridas” pela polícia, e mantém fora do mercado de trabalho e das vagas das universidades, uma parcela importante da população brasileira.
Diante da repercussão dada pelos artistas, milhares de pessoas começaram a postar, compartilhar e retwittar em suas redes sociais inúmeras fotos comendo bananas e promovendo assim a “campanha #somostodosmacacos” produzida por uma empresa de publicidade,  e com o apoio do apresentador Luciano Huck e do jogador de futebol Neymar que em entrevistas no início da carreira, já declarou “nunca ter sofrido racismo, pois não era negro”. O fato de Neymar não se identificar como negro é um direito dele, assim como de qualquer outra pessoa, pois ser negro no Brasil está diretamente associado a questões muito específicas, como a compreensão de fazer parte de um grupo historicamente discriminado e marginalizado e que sofre em razão disso, portanto, não depende apenas de ter um parente  distante ou ter um filho negro, e não se resume ser ou não ser racista, ter um vizinho, um amigo ou namorado(a) negro(a), ou trabalhar ou estudar com negros, são suas atitudes diárias e frequentes que mostrarão quem você é? e qual é seu carácter? Sem contar, que em um país como o Brasil que ainda passa por um processo de “embranquecimento” herdado da imigração européia, se identificar como negro é para “muitos” carregar um “grande peso social” associado.
A atitude de Neymar de aparecer dando exemplo ao seu filho “comendo bananas”,  foi rapidamente alastrada pelas redes dos artistas, “globais”, fãs e internautas que começaram a postar fotos como forma de apoio ao Daniel Alves. Infelizmente, todas essas pessoas que postaram fotos comendo bananas ou exibindo-as nas redes sociais ‘linkadas” a hashgtag da campanha, pensavam que estavam fazendo um protesto válido de Combate ao Racismo, porém, #Somos Negros e Negras, #Respeitem nossas diferenças! #Não somos Macacos! assim como pessoas brancas, amarelas e verdes também não são.
           Dessa forma, percebe-se a grande necessidade que a sociedade possui de receber formação antirracista, pois este foi apenas mais um exemplo da forma que os discursos racistas estão impregnados em grande parte da sociedade brasileira e são transmitidos pelos grandes meios de comunicação, que ao invés de promover o debate antirracista em sua programação normal, reproduzem o racismo diariamente, e dando repercussão a esse tipo de campanha descabida.
Dizer que “#somostodosmacacos” é classificar o homem dessa forma em uma comparação análoga ao animal “macaco” e como ser humano menos evoluído, como “não ser humano”. Neymar pode até dizer que não é Negro, no entanto não pode classificar à todos, inclusive a nós, negros e negras, como “não seres humanos” o que por si só descarta a existência do racismo já que não somos humanos? sem contar que, o jogador Neymar reverteu a atitude de seu companheiro, Daniel Alves, que ao contrário ironizou o ato racista. Ressaltamos ainda que atos como esses não devem jamais ser ignorados, devendo ser punidos na forma da lei. E a mídia ao reproduzir da mesma forma que o Neymar, “afirmando” como ser uma ação antirracista, na verdade só reforça estereótipos tão rechaçados pela população negra.
           As ações de Daniel e Neymar foram completamente distintas, o primeiro ironiza o problema e o segundo reforça o estereótipo. O problema maior é que jogadores como ambos têm uma grande visibilidade mas infelizmente não utilizam esse destaque para promover verdadeiramente campanhas de combate do racismo em qualquer que seja o espaço, enquanto que suas atitudes só banalizam a luta da população negra por igualdade de direitos e tratamento. Assim, se destaca cada vez mais a importância e a necessidade urgente de implementação das Leis 10.639 de 2003 e 11.645 de 2010, que requer o ensino e a valorização da História e da Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena na construção do Brasil e da identidade Brasileira, para que todos possam compreender, trabalhar e discutir as questões étnico-raciais não só nas escolas, mas em todos os espaços, onde ainda tais questões são proibidas.
“Muitos afirmam vivermos numa democracia racial e justificam o racismo como um problema de classe social ou do próprio negro, mas atos como esses demostram que o racismo é um problema que vai além das questões de classe social e que mantém os privilégios de um grupo racial dominante em detrimento da marginalização de outros”.
*O Coletivo Negrada é uma organização de estudantes negros e negras, indígenas e cotistas da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.

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