domingo, 19 de janeiro de 2014

PARA COMEÇAR 2014, ABAIXO SEGUEM DOIS TEXTOS SOBRE O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA (ESCRITOS POR MEMBROS DO NEAB), PARA RELEMBRAR DO DIA 20 DE NOVEMBRO E FAZER COM QUE AS RELFEXÕES LEVANTADAS NESSA DATA SEJAM DISCUTIDAS POR TODA SOCIEDADE E POR TODO O ANO.

POR QUE PRECISAMOS DE UM DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA?

Texto originalmente publicado no blo Ecos da Periferia: http://ecos-periferia.blogspot.com.br/

por Francy Silva militante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros/UFV e mestranda em Letras/UFV


Quantos médicos negros ou dentistas já te atenderam? Quantos engenheiros, deputados, senadores, ministros negros você conhece? Quantos atores e atrizes negros são protagonistas das novelas? Quantos negros aparecem nas propagandas publicitárias? Quantos professores negros lhe dão aula na universidade? Quantas negras são modelos nos desfiles de moda? Quantas negras estão estampando as capas das revistas? Quantos negros são clientes naquele restaurante chique que você frequenta ou mesmo em uma simples pizzaria?...

Certamente, você deve ter dado uma resposta negativa pra maioria dos questionamentos acima e, quando respondeu positivamente, deve ter percebido que a presença de negras e∕ou negros nesses espaços é quase inexistente.

Agora, responda as seguintes questões:

Qual é a cor da maioria dos funcionários que fazem a limpeza do seu trabalho, prédio, universidade, rua? Qual a cor da maioria dos pedreiros em uma construção? Qual é a cor da maioria dos moradores de rua? Qual é a cor de grande parte dos moradores das favelas? Qual é a cor da maioria dos jovens assassinados ou prisioneiros? Qual é a cor dos vendedores de rua ou das praias? Qual é a cor da maioria das empregadas domésticas? Qual é a cor da maioria das pessoas nas filas em busca de emprego? Qual é a cor da maioria dos pacientes nas filas quilométricas dos SUS? Qual é a cor das crianças que trabalham nas sinaleiras? ...

Certamente, você respondeu “negro ou negra” se não em todos, em grande parte dos questionamentos acima.

Por isso, não me venham com esse discurso bonito de que não há racismo no Brasil, de que raças não existem e o que vale é a essência humana. Pode até não existir raças, mas o racismo é real, latente, vitimando todos os dias milhares de negros e negras no Brasil e no mundo. 

Não me venha com essa conversa de que vivemos em uma democracia racial e que não precisamos de um dia da Consciência Negra, mas um dia da consciência humana.

Foi essa consciência humana que submeteu milhares de negros africanos a uma escravidão cruel e abominável. 


Foi essa humanidade que jogou essas pessoas nas favelas, na marginalidade, tirando-lhes os mínimos direitos à educação, saúde, moradia, lazer...

É essa humanidade que está matando nossos jovens... de cada 100 jovens que morrem assassinados no Brasil, 74 são negros.

De cada 100 mulheres assassinadas no Brasil, 65 são negras, sendo que no Nordeste esse número chega a 85. 

Os homens negros recebem menos que os homens brancos, mesmo tendo a mesma qualificação e fazendo o mesmo trabalho.

As mulheres negras recebem menos que os homens e mulheres brancos e menos que os homens negros.

Mesmo com o Sistema de Cotas os negros ainda são minoria nas universidades e em cursos mais concorridos como Medicina, Direito, Engenharias são, praticamente, inexistentes.

Os negros são a maioria da população carcerária.

As crianças de rua, órfãs e vítimas do trabalho escravo são, em sua maioria, negras...

Diante dessa realidade, afirmo e reafirmo, enquanto os negros continuarem a serem as vítimas preferenciais da violência, exclusão, desigualdade, seguiremos na luta para que haja um dia da consciência negra, para que as pessoas saiam da sua zona de conforto e enxergue os resultados de anos de colonialismo e escravidão. 

A nossa luta é para que a conscientização seja cotidiana, mas, enquanto não a alcançamos, exaltamos o dia da Consciência Negra como um dia de luta por justiça, igualdade, respeito. O dia de relembrar os nossos heróis, celebrar as nossas conquistas e, mais do que tudo, o dia de lembrar que ainda há muito que conquistar!



AVANTE, GUERREIR@S! ENEGRECER É PRECISO!

Hoje somos pretos e pretas!!

Texto originalmente publicado no blog: http://caritasdiocesanadealmenara.blogspot.com.br/2013/11/hoje-somos-pretos-e-pretas.html




Por Dashiell Dayer - Cáritas Baixo  Jequitinhonha


Dia 20 de Novembro é comemorado no Brasil o Dia da Consciência Negra, sendo em muitas cidades feriado municipal. Nessa mesma data, no ano de 1695 morreu Zumbi dos Palmares líder maior do quilombo de Palmares, a primeira e maior comunidade quilombola que se tem notícia na história do país. Quase 50.000 negros, índios e até alguns brancos resistiram por mais de100 anos às investidas dos exércitos português e holandês e viveram em harmonia com a natureza e com sua cultura ancestral. Zumbi dos Palmares, Dandara sua companheira e líder guerreira, bem como o quilombo, desde então tornaram-se entre os negros no brasil, símbolos de força e resistência pela manutenção e fortalecimento de suas raízes africanas. Uma data simbólica e importante para as pessoas que lutam por uma realidade mais justa para a população negra no Brasil.
É momento de refletirmos sobre nossa origem africana. Os hábitos, costumes, a cosmovisão, a filosofia, a culinária, a música, a religiosidade, são alguns elementos que, apesar de toda a campanha milenar pela negativização africana, está na pele, nos cabelos, nos olhos e no modo de ser do/a brasileiro/a.
A hora é de luta. Segundo o IBGE 2012, 51% da população brasileira é negra. Exigimos respeito com nossa origem, com aqueles que construíram o Brasil. Não podemos ficar em palavras, não é apenas no dia de hoje que devemos lembrar de Zumbi, mas a cada dia, a cada fala de caráter racista que pronunciamos sem pensar. Ao lembrar que os ancestrais fugidos da escravização deixaram um solo sagrado para seus filhos e que estes hoje têm que travar outra batalha pelo seus direitos à terra. Ao ver uma manifestação da religiosidade africana e chamar pejorativamente de “macumba”. Ao falar que alguém tem cabelo “ruim” ou “ pixaim”  pelo fato dele ser crespo. Ao pensar que o papel da mulher negra é o da empregada. Ao entrar num restaurante e ver que os consumidores são todos brancos e os garçons negros e achar isso normal. Ao se constranger quando falar sobre a cor de uma pessoa. “Moreninho”, “escurinha” ... não somos. Somos negros, negras, pretos e pretas. Não é ruim, é o que somos de fato.
A Cáritas do Baixo Jequitinhonha está nessa luta, enfileirada com os Zumbis e as Dandaras, os Bantus e Nagôs que construíram e contribuem para a construção de um país menos europeizado e mais africano.                                                                                                                                                 


                                                                                   

                   Zumbi e Dandara vivem!!!