domingo, 19 de janeiro de 2014

POR QUE PRECISAMOS DE UM DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA?

Texto originalmente publicado no blo Ecos da Periferia: http://ecos-periferia.blogspot.com.br/

por Francy Silva militante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros/UFV e mestranda em Letras/UFV


Quantos médicos negros ou dentistas já te atenderam? Quantos engenheiros, deputados, senadores, ministros negros você conhece? Quantos atores e atrizes negros são protagonistas das novelas? Quantos negros aparecem nas propagandas publicitárias? Quantos professores negros lhe dão aula na universidade? Quantas negras são modelos nos desfiles de moda? Quantas negras estão estampando as capas das revistas? Quantos negros são clientes naquele restaurante chique que você frequenta ou mesmo em uma simples pizzaria?...

Certamente, você deve ter dado uma resposta negativa pra maioria dos questionamentos acima e, quando respondeu positivamente, deve ter percebido que a presença de negras e∕ou negros nesses espaços é quase inexistente.

Agora, responda as seguintes questões:

Qual é a cor da maioria dos funcionários que fazem a limpeza do seu trabalho, prédio, universidade, rua? Qual a cor da maioria dos pedreiros em uma construção? Qual é a cor da maioria dos moradores de rua? Qual é a cor de grande parte dos moradores das favelas? Qual é a cor da maioria dos jovens assassinados ou prisioneiros? Qual é a cor dos vendedores de rua ou das praias? Qual é a cor da maioria das empregadas domésticas? Qual é a cor da maioria das pessoas nas filas em busca de emprego? Qual é a cor da maioria dos pacientes nas filas quilométricas dos SUS? Qual é a cor das crianças que trabalham nas sinaleiras? ...

Certamente, você respondeu “negro ou negra” se não em todos, em grande parte dos questionamentos acima.

Por isso, não me venham com esse discurso bonito de que não há racismo no Brasil, de que raças não existem e o que vale é a essência humana. Pode até não existir raças, mas o racismo é real, latente, vitimando todos os dias milhares de negros e negras no Brasil e no mundo. 

Não me venha com essa conversa de que vivemos em uma democracia racial e que não precisamos de um dia da Consciência Negra, mas um dia da consciência humana.

Foi essa consciência humana que submeteu milhares de negros africanos a uma escravidão cruel e abominável. 


Foi essa humanidade que jogou essas pessoas nas favelas, na marginalidade, tirando-lhes os mínimos direitos à educação, saúde, moradia, lazer...

É essa humanidade que está matando nossos jovens... de cada 100 jovens que morrem assassinados no Brasil, 74 são negros.

De cada 100 mulheres assassinadas no Brasil, 65 são negras, sendo que no Nordeste esse número chega a 85. 

Os homens negros recebem menos que os homens brancos, mesmo tendo a mesma qualificação e fazendo o mesmo trabalho.

As mulheres negras recebem menos que os homens e mulheres brancos e menos que os homens negros.

Mesmo com o Sistema de Cotas os negros ainda são minoria nas universidades e em cursos mais concorridos como Medicina, Direito, Engenharias são, praticamente, inexistentes.

Os negros são a maioria da população carcerária.

As crianças de rua, órfãs e vítimas do trabalho escravo são, em sua maioria, negras...

Diante dessa realidade, afirmo e reafirmo, enquanto os negros continuarem a serem as vítimas preferenciais da violência, exclusão, desigualdade, seguiremos na luta para que haja um dia da consciência negra, para que as pessoas saiam da sua zona de conforto e enxergue os resultados de anos de colonialismo e escravidão. 

A nossa luta é para que a conscientização seja cotidiana, mas, enquanto não a alcançamos, exaltamos o dia da Consciência Negra como um dia de luta por justiça, igualdade, respeito. O dia de relembrar os nossos heróis, celebrar as nossas conquistas e, mais do que tudo, o dia de lembrar que ainda há muito que conquistar!



AVANTE, GUERREIR@S! ENEGRECER É PRECISO!

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